O impacto sobre a saúde de pacientes adultos da infecção pelo vírus SARS-COV2 , responsável pela COVID-19, é, em sua maioria, já conhecida pela maior parte da população. Ainda após tanto tempo passado do início da pandemia, novos relatos sobre sintomas prolongados após a fase inicial da doença acontecem diariamente. Pouco se discute, contudo, sobre as alterações renais e urinárias da COVID sobre os rins e trato urinário em pacientes pediátricos. 

Vário artigos na literatura médica relataram a gravidade de um quadro envolvendo vários sistemas, chamada de "Multisystem Inflammatory Syndrome in Children (MIS-C)"_Síndrome Inflamatória Multisistêmica Pediátrica_SIMP, em português. A gravidade de comprometimento de diversos órgãos como coração, pulmões, fígado, cérebro, intestinos, pele e rins estão asssociados à importante morbidade e mortalidade em crianças e adolescentes, levando a longos períodos de necessidade de tratamento em Unidades de Terapia Intensiva. Cansaço excessivo, pele vermelha, olhos vermelhos, dores de cabeça, convulsões, confusão mental, dor abdominal e diarréia, tosse e falta de ar progressiva podem ser manifestações associadas à infecção pelo coronavírus e sinais iniciais de SIMP. Neste contexto, a injúria renal aguda (IRA) associada à SIMP pode ocorrer em maior ou menor grau entre 30 e 50% dos casos. A retenção de líquidos que pode ocorrer nesta situação associa-se à elevação da mortalidade nestes pacientes em cuidados intensivos. 

A Organização Panamericana de Saúde (PAHO), entidade ligada à OMS na América Latina, publicou recentemente orientações para o tratamento de crianças com SIMP (para acessar, clique aqui ). 

Apesar do número menor de pacientes com quadros graves em comparação com pacientes adultos, as perdas e sequelas em pacientes e seus familiares são inestimáveis e a vacina contra COVID-19 em crianças e adolescentes tem papel fundamental na redução destes números. Artigo recente em publicação do CDC (Centers for Disease Control and Prevention, dos Estados Unidos) apontou que a efetividade de 2 doses( da vacina em crianças ) contra SIMP é de 91% (para ler o artigo_ em inglês_ clique aqui ). Este número é expressivo e objetivo. 

Uma outra dúvida frequentemente referida pelos pais é sobre o uso de medicamentos imunossupressores devido à doenças que acometem os rins (síndrome nefrótica, nefrite lúpica, transplantados de rins). Para controle da doença renal, seu uso deve ser interrompido ou alterado somente em casos selecionados. Após a vacinação, pode haver interferência sobre a produção de anticorpos protetores, mas isto NÃO contraindica a vacinação. Somente em casos onde a dose de corticóide é muito elevada (nas primeiras semanas de indução de remissão de síndrome nefrótica), pode-se adiar a vacinação por alguns dias/semanas, na tentativa de otimizar a produção de anticorpos protetores. 

Por fim, alguns pais já me questionaram se "devem vacinar ou não seus filhos". 

Eu pergunto, "você já teve algum conhecido, parente, criança ou adulto que morreu de COVID?". 

Eu conheço mães de crianças que morreram por COVID numa época que não havia vacina para estas crianças e adolescentes. Tenho certeza que elas dariam tudo para voltar no tempo e vaciná-los. Poderiam estar conosco aqui, hoje a agora. 

Pensem nisso.